terça-feira, 18 de maio de 2010

Dois pra lá, dois pra cá

Comemora-se, hoje, o Dia Nacional da Luta Antimanicomial.

Em todo o Brasil ou se ocupam as ruas, ou os espaços institucionais, com mensagens pelo fim dos manicômios. Sobretudo depois que os conservadores puseram as "manguinhas de fora" e passaram a administrar a insegurança das famílias com dificuldade de acesso aos serviços substitutivos ao manicômio.

Os investimentos na implantação de uma rede de atenção diária à saúde mental ainda são insuficientes. A formação de um novo perfil de profissional para atuar num outro modelo de atenção em saúde mental ainda está aquém das demandas reais da sociedade.

É neste quadro que prosperam ações que abrem perigosos precedentes. O caso do Amazonas é exemplar. Mais uma vez o hospício local é palco de uma ação que caminha na contra mão da história. Surpreendem tanto mais por envolver profissionais com o conhecimento reciclado em cursos de especialização.

Celebrar a data máxima da luta por uma sociedade sem manicômios dentro do hospício é deixar a desinstitucionalização da loucura ser capturada pelo desconhecimento dos verdadeiros fundamentos da dominação, aquela que estimula o voluntarismo na luta contra as relações de força. Bourdier costuma dizer que dominações também se alimentam de ilusões que se tem sobre ela, e portanto do desconhecimento do qual ela é objeto.

Se a violência real é exercida pela omissão deliberada do gestor, submetendo todos à camisa de força de dominação, existe uma violência simbólica que a alimenta. As idéias do sujeito que a ela se submete se desenvolvem sobre um fundo de desconhecimento, mas com uma particularidade: o agente social é cúmplice dele. Presos às leis do funcionamento social, por elas são alienados, o que os deixa longe de torná-los sujeitos de sua história.

Somente o conhecimento das leis permite a dominação prática das nossas necessidades. Reveladas as causas, podemos agir sobre os efeitos. Reduzir as forças que atuam no campo e as forças sociais que incorporamos dentro de nós, eis o nó da questão. Ah! que falta nos faz uma ciência dos poderes simbólicos!

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